Ilha das Flores – O que nós temos a ver com isso?

Ilha das Flores - O que nós temos a ver com isso?

Apesar de altamente desenvolvido, o homem está sempre a mercê de suas ambições e necessidades. Enquanto alguém tem propriedades para plantar tomates, muitos não têm nem ao menos tomate para comer.

O filme passeia pelas camadas sociais passando pelo agricultor, o dono do mercado, a fábrica de essências, a revendedora, o dono dos porcos e seus empregados até os miseráveis do outro lado da cerca. O que se nota é que cada um está mais preocupado em cumprir a sua parte, ou seja, lutar pela própria sobrevivência, para depois pensar nos outros. Se o japonês de olhos puxados tem tomate para vender, então o atravessador quer comprar. O dono do mercado por sua vez, precisa do tomate para atender sua clientela. E assim o ciclo (do tomate) vai se fechando. Mas ainda tem o lixo, que por sinal é uma montanha, porém na Ilha das Flores, deixa de ser lixo. Vira primeiro, alimento de porco, depois “alimento” de gente. Que, aliás, tem um cérebro altamente desenvolvido e dedo opositor. Agora sim fechou o ciclo do tomate, pelo menos por enquanto.

O que podemos notar é que o capitalismo está por trás de tudo. É preciso ganhar. Não basta fazer apenas para o sustento. E neste caso, o lucro, apesar de um dia já ter sido proibido pela igreja católica, é a meta principal de qualquer capitalista que se preze. O meu porco é mais importante. Se não engordá-lo o suficiente não alcançarei um bom preço. Neste momento o tomate podre passa a ter valor, primeiro para o dono dos porcos, depois para os miseráveis que aguardam na fila a sua vez de explorar o lixo. O dinheiro vence a ética e a fome também. Aliás, lixo é tudo aquilo que é produzido pelo homem e que “não serve para ele”. Lixo é perigoso. Pode trazer doenças para a população. Enquanto uns fogem do lixo, outros dependem dele para sobreviver. Nem mesmo as flores perfumadas da Ilha, que já são raras, podem eliminar o “mau cheiro” mostrado pela situação.
A Ilha das Flores é apenas uma pequena amostra do que ainda hoje acontece em outros lugares, seja no Brasil ou em outros paises. Enquanto poucos são donos de muito, a grande maioria vive em condições sub-humanas, dependendo da boa vontade dos outros ou de entidades filantrópicas preocupadas com as questões sociais. Antes de cercar ou dar um tratamento adequado para o lixo, é preciso dar condições para as pessoas que vivem do mesmo. Não dá para pensar em igualdade social sem a participação efetiva dos governantes.
É ético jogar lixo em uma ilha? É ético dar os restos dos porcos para mulheres e crianças? Do ponto de vista do dono dos porcos é. Ao menos é o que o filme mostra. Parece que ele tem certeza de que está fazendo a parte dele. Até organizou a entrada das pessoas. São cinco minutos para recolher o máximo de “alimento” que puder.
O que será dos miseráveis das muitas Ilhas das Flores existentes pelo mundo, quando o lixo for destinado corretamente em um aterro sanitário? Sem esquecer o dono dos porcos que terá que comprar alimento para tratar da sua vara, ou então colocar seu cérebro altamente desenvolvido para funcionar e passar a plantar tomates.
A questão ambiental também está presente no filme a partir do momento em que trata da questão do lixo e sua destinação final. Deixando claro que a Ilha não seria o melhor lugar para a disposição do lixo. Talvez quem teve a idéia tenha pensado apenas na questão humana, manter o lixo o mais longe possível da população, mas com certeza não foi a melhor solução. É possível tratar o lixo de maneira que as pessoas que hoje se alimentam de restos nele encontrados, possam sobreviver do mesmo, através de um trabalho digno. O caminho para isso é a reciclagem, seja através de cooperativas ou mesmo de ações isoladas, onde cada um recolhe o lixo reciclável, transforma, vende e aí sim, poderá desfrutar de uma verdadeira salada de tomate.

Darcy Mendes Darcy Mendes (812 Posts)

Técnico em Segurança do Trabalho, graduado em Gestão Ambiental e especialização em Prevenção e Combate a Incêndio. Nas horas vagas sou músico e professor de violino!!!


4 thoughts on “Ilha das Flores – O que nós temos a ver com isso?

  1. Oi Darcy, to amando esse site tem tudo q um tecnico de segurança precisa. Acho interessante como vc responde com tanta atenção e carinho a cada membro q te procura, continua assim ta? Prabens!Beija.

  2. Darcy, meu velho,Só a presença do "Ilha das Flores" aqui já ganhou a minha simpatia.Esse clássico deveria ser ensinado na escola. Alias, eu fiz isso. Quando trabalhava com Educação Ambiental um dos vídeos que eu apresenta era esse.Além disso, hoje atuo na Secretaria de Estado de Saúde, no combate e bloqueio de transmissão de endemias e epidemias, só que pertence também ao meu setor de Vigilância à Saúde a parte de Saúde do Trabalhador. Assim, Segurança no Trabalho é algo que também me interessa profissionalmente. Assim, vou aproveitar para linkar também esse blog.Grande abraço, meua amigo!

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